Com a redemocratização todos os veículos de comunicação tornaram-se “democratas” com a fé de cristãos novos. Uns nunca abandonaram de fato a direita, como o Estadão e a própria Globo e outros, como a Folha, por mera questão de marketing, posicionou-se na centro-esquerda mas todos, desde sempre, viam no Partido dos Trabalhadores um adversário em potencial. Há quem afirme que a emenda das diretas não foi aprovada em função do receio da elite, desde sempre representada no Congresso Nacional, de ver o operário Lula eleito, considerando o sucesso que fazia nas manifestações pelas Diretas.
Vieram as eleições indiretas, a vitória de Tancredo, seu falecimento, o governo Sarney e, junto com ele, o poder de Antonio Carlos Magalhães como ministro das telecomunicações. Era por ele que passavam as concessões de rádio e TV. Com laços históricos com as Organizações Globo, era a pessoa certa no lugar certo (ou a raposa cuidando do galinheiro, para ser mais exato).
Sarney governou, Collor sucedeu-lhe após amplo apoio da mídia à sua campanha (e aqui, verdade seja dita, a Folha de São Paulo e a Rede Manchete foram talvez as únicas que não ‘colloriram’), ocorreu o impeachment após a exibição de uma minissérie marota chamada Anos Rebeldes (que de certa forma “ensinou” a juventude da época a protestar nas ruas – lembram dos cara-pintadas?) e veio o governo Itamar Franco. Sob a gestão de Itamar, que a mídia desenhava como folclórico com seus fuscas , topetes e amigas eventuais ( a propósito, que fim levou a Lilian Ramos?) na verdade houve a gestação do Plano Real e de ideias como a dos medicamentos genéricos, paternidades que lhe foram usurpadas pelos seus sucessores, os tucanos.
Com a ascensão do presidente sociólogo ao poder tivemos pela primeira vez um presidente que havia sido oposição ao regime. Apesar do êxito inicial do Plano Real em acabar com a inflação, o custo social de seu governo foi imenso, a privatização desenfreada (hoje conhecida por todos, exceto pela Justiça Brasileira, como Privataria Tucana) desmontou boa parte do Estado brasileiro e, no plano macroeconômico, levou o país três vezes à bancarrota. Apesar do eterno apoio na mídia, Fernando Henrique Cardoso não conseguiu fazer seu sucessor e em 2002 Lula foi eleito.
Foi necessária essa breve introdução para contextualizar o leitor para o real tema desse texto: POR QUAL RAZÃO A MÍDIA ODEIA TANTO O PT, EM ESPECIAL JOSÉ DIRCEU...
Como Chefe da Casa Civil José Dirceu repartiu em 9000 veículos de comunicação uma verba que era concentrada em apenas 499 empresas e, desse montante, 80% ia para empresas das Organizações Globo. Não satisfeito em descentralizar esses recursos, promoveu também alteração na lógica até então vigente de utilização do BNDES, fazendo o BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO honrar seu nome e emprestar dinheiro apenas para o fomento da produção, e não mais para o pagamento de dívidas, como era praxe acontecer anteriormente. Outro legado de sua gestão foi democratizar a compra de livros didáticos, setor onde Editora Abril e Globo dominavam amplamente na gestão anterior.
Em síntese: o perigoso comunista José Dirceu nada mais fez que dar um choque de capitalismo em setores que eram oligopolizados às expensas do Estado. Isso fez com que atraísse para si a ira dos daqueles que se sentiram prejudicados com a perda de privilégios.
A partir desse quadro, tudo que se vê na grande-mídia (aquela, dos “499 prejudicados”) tem que automaticamente ganhar ares de suspeição. Essa mídia formadora de opinião, apesar de decadente (até por razões tecnológicas), ainda consegue manter significativa parcela da classe-média sob seu domínio. Não por coincidência, é desse extrato social que saem os médicos que vão aos aeroportos xingar seus colegas cubanos e boa parte dos concursados que ingressam nas carreiras do Ministério Público, Polícia Federal e, claro, Magistratura.
A inserção social via consumo e sem politização adotada pelos governos petistas em nome da crença em um grande pacto social onde elite e classe trabalhadora ganhariam sempre está a cada dia mais cobrando seu preço. Delírios antidemocráticos como os do impeachment só ecoam na grande e velha mídia por não se ter sabido demonstrar quais os reais interesses de empresas como Abril e Globo a cada comentário de um Arnaldo Jabor ou textos de Reynaldo Azevedo ou Diogo Maynardi.
*ps.: se o leitor espantou-se por não ter sido mencionado nos textos os casos da AP 470 (mais conhecido como Mensalão) e da Operaçao Lava Jato, recomendo a leitura dos livros A PRIVATARIA TUCANA e O PRÍNCIPE DA PRIVATARIA.
Fernando Miller
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