O CompasNet enviou um correspondente especial para a cobertura da Virada Cultural paulistana ocorrida nesse último fim de semana. A pauta era cobrir shows de diferentes públicos, horários e lugares e, principalmente, sentir o pulso da cidade mais coxinha do Brasil. Assisti os shows da paraguaia Perla no Arouche, de Erasmo Carlos na Av.São João, de Nando Reis na Estação Julio Prestes da banda Ira! no Theatro Municipal. Seguem minhas considerações:
1- A noite de sábado começou um pouco desorganizada - muitos envolvidos na organização não sabiam onde encontrar um guia dos eventos e, pelo menos em um dos palcos da Praça da República, os seguranças sequer sabiam o nome daquele palco, informação primordial para a localização dos espectadores.
2- Enfim encontrado o palco Arouche, o primeiro show visto foi da paraguaia Perla. Em São Paulo vivemos um clima de xenofobia latente, causada pela chegada de bolivianos, angolanos e haitianos que vem "tomar nossos empregos" como diz aquele Retardado On Line. Felizmente não se viu qualquer resquício disso. Em um público marcado pela diversidade sexual, a cantora trouxe seu repertório com tranquilidade, passeando entre as célebres versões do ABBA (inclusive FERNANDO...rs) até a tradicional Galopeeeeeeeeeeeeeeeira...Nunca mais esquecerei esse show.Ir ao Arouche em um sábado à noite e sentir-se seguro é inesquecível.
3- O segundo show visto foi o do Tremendão, Erasmo Carlos, na Av. São João, às 10h da manhã do domingo. Erasmo é bem mais que um anexo no Condomínio Roberto Carlos. Artista com luz própria, simpatissíssimo com o público e o único que o signatário deste texto soube cantar totalmente o set list. Um destaque foi a quantidade de pessoas acima de 50 anos cantando e dançando. A diversão na 3a idade é uma forma de rebeldia em um mundo "jovemnista"( sim, criei uma palavra). Nada melhor que um show de rock (e Erasmo é rock n' roll puro) para ser rebelde.
4- O próximo show do dia foi de Nando Reis, na Estação Julio Prestes. O destaque extramusical ficou para uma história que Nando Reis tentou contar sobre um assalto que sofreu junto com a namorada mas cujo desfecho não ficou claro. Musicalmente, Nando Reis é um poeta e, pelo que acompanho em suas entrevistas, uma pessoa com ideais progressistas. Foi o único show em que senti o cheiro de Cannabis no ar. Uma moça nitidamente bem nascida que estava ao meu lado a consumia alegremente. Sou a favor da descriminalização, mesmo sabendo o quanto aquele cheiro não faz bem ao meu organismo, mas pensei na diferença de tratamento que ela receberia das autoridades se fosse abordada e fosse "mau nascida" ou tivesse uma cor diferente da rosada que ostentava...
5- O último show do meu dia foi o do Ira! no Theatro Municipal (com TH mesmo, em homenagem à imponência e beleza da edificação). O destaque negativo foi ver parte do público pedindo a infeliz Pobre Paulista à banda. Nazi, em sua biogafia (imperdível o livro escrito por Mauro Betting,aliás) já declarou o quanto não gosta dessa música. O destaque positivo foi a banda ignorar o pedido. Imagino quantas pessoas entraram no "Municipal" ontem pela primeira vez. Espero que tomem gosto pela cultura e voltem outras vezes. Assisti lá Carmen, de Bizet, no ano passado e certamente foi uma experiência marcante...
O saldo do evento foi muito positivo. Tão bom que as Nove da Noite do domingo a Folha on Line não trazia qualquer menção em sua capa ao evento. Ou seja, não houve carniça para o sobrevôo dos urubus. No mais, acredito que nada pode ser mais socialista que as ruas tomadas de pessoas ávidas por eventos de qualidade e de cultura espalhada pelos quatro cantos. Um evento criado por uma prefeitura tucana (Serra, o breve, deixou esse legado positivo na cidade), consolidado pela gestão Kassab e bem gerido pelo petista Haddad mostra como seria bom se os partidos (viu, Tucanada...) se unissem pensando mais na população e menos em destruir o que o outro fez de bom.
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