E lá se vão longos 13 anos...
Em 2002 eu era coordenadora pedagógica de uma escola que atendia crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Na época já estávamos sob a égide tucana no Estado de São Paulo. Em
Piracicaba, nosso Prefeito Municipal era do PT.
A Rede Municipal de
Educação era autônoma e o salário dos professores (pasmem!) era bem melhor
que o nosso da Rede Estadual.
O processo de sucateamento da rede pública
estadual estava a pleno vapor; tínhamos o “Sechium edule” no poder.
Pois bem...
Estava arrumando uns
papéis e encontrei textos que escrevia e publicava no jornal local (ainda
publicavam críticas aos tucanos).
Eu questionava a
covardia do Governo do Estado que responsabilizava as comunidades escolares por
todas as mazelas da educação (não é assim ainda?).
Sabe o que é pior?
O mesmo “Sechium edule” continua no Palácio dos Bandeirantes!
Decidi então reproduzir o
texto aqui pois na época as publicações não tinham o alcance trazido pela popularização da internet e das redes sociais.
Guardando a
especificidade do tema, pode-se inferir (no caso dos mais jovens) ou recordar (no nosso caso) como era a situação geral do País e do Estado de São Paulo sob a sombra das asas tucanas.
Lembrem-se que em 2002 o Governo
Federal era comandado por um “príncipe”: o da privataria. Algumas situações
descritas remetem a ele e ao seu (des)governo.
Quem sabe republicando a história eu possa contribuir cortando um pouco da raiz dessa rama de chuchu que tem pretensões de se alastrar pelo País...
Então, “senta que lá vem
a história”:
AS MAZELAS DA ESCOLA PÚBLICA
É impressionante a engenhosidade e a capacidade de se encontrar “bodes
expiatórios” para as desgraças da humanidade.
A culpa é da Argentina, é da chuva, é da falta de chuva, é do dólar, é
do Mercado, dos terroristas, do Congresso...
O fato é que é muito fácil transferir para o próximo (ou o distante, o
abstrato, a divindade...) a responsabilidade pela realidade da qual fazemos
parte. E, assim sendo, temos nela nossa quota de participação.
Mas alguns “iluminados” só se arvoram e propagam sua participação se a
realidade “dá certo”. Se é para ganhar um prêmio, fazer um discurso, participar
de uma homenagem, a “casa fica cheia”...
Se surgir algum problema, usam sua “iluminada inteligência” para caçar
as “bruxas”. E se pudessem, queimá-las-iam em praça pública (não duvidem...).
Então, quem são as “bruxas da escola pública”?
Se os pais não têm mais perspectivas e transmitem essa ideia para seus
filhos através de discursos implícitos (e às vezes explícitos), na sua fala e
na sua maneira de agir cotidianamente, no seu desespero por não encontrar
trabalho, no seu descrédito no futuro, no poder público e, principalmente, no
seu descrédito no ser humano, quem tem culpa?
Se a educação formal já não é mais garantia de um futuro seguro, de uma
melhor colocação no famigerado mercado, quem tem culpa?
Por acaso quem estuda em colégios particulares tem garantia de um
futuro seguro, de um trabalho digno e bem remunerado? E o que dizer dos
profissionais das mais distintas áreas, que exercem as mais diversas ocupações
para sobreviver? De quem é a culpa?
O “Comando de Caça às Bruxas” (isso lembra alguma coisa?...) ergue seu
dedo em riste para apontar seus supostos “culpados” pelas mazelas da escola
pública: os professores, os coordenadores pedagógicos, os diretores. Enfim, o
problema está dentro da escola.
Os professores não entenderam a proposta pedagógica da Secretaria da
Educação, os coordenadores pedagógicos são acomodados e não procuram informar
adequadamente seus colegas de trabalho, os diretores fazem “vista grossa” para
o que acontece na escola. Essa é a teoria...
Mas vejam bem:
Se um exército falha, de quem é a culpa? Não seria dos comandantes?
Se um bolo desanda, a culpa é da farinha ou da cozinheira?
Se uma casa cai, a culpa é dos tijolos ou do engenheiro?
Se um orçamento estoura, a culpa é do dinheiro ou do administrador?
Se uma boiada dispersa, a culpa é dos bois ou do peão? etc, etc., etc.
É a velha história: o pai pressiona a mãe porque a sala está suja. A
mãe diz para a filha adolescente cuidar da limpeza da sala. A filha adolescente
põe o irmãozinho de castigo no quarto brincando de videogame para não sujar a
sala. O gurizinho tranca o cachorro no quintal. E o cachorro? Como vai se
defender da acusação que recai sobre ele?
Só lhe resta uivar tristemente...
Mas não somos dóceis cãezinhos e temos inteligência e clareza para
concluir que não somos culpados sozinhos pelas mazelas da escola pública.
Que os “caçadores de bruxas” olhem-se no espelho. Talvez não vejam seu
reflexo, pois os vampiros não o tem. (Alice Gerolamo - Jornal de Piracicaba - Sábado, 08 de junho de 2002)
0 comentários :
Postar um comentário